Cineclube Maruge Na Medida! - "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampou
No dia 24 de setembro foi realizada mais uma edição do Cineclube Maruge – Na medida! no Centro de Internação Provisório Dom Bosco em Belo Horizonte.
O filme “Na Quebrada” foi exibido em dois momentos, de manhã para a equipe de profissionais que atuam na unidade, e a tarde para onze adolescentes.
A aposta do projeto de acesso a Cultura pela vida do cinema, momento de lazer, acesso à cultura, de “dar um tempo”, sair do que é igual, ser diferente ser também uma possibilidade.
Às perguntas “qual seu sonho?” e “qual seu perrengue”? ouvimos:
- “sair da cadeia”
- “ser goleito”
- “cuidar do meu filho, ser pai pra ele”
- “não tenho perrengue não”
- “meu perrengue é a cadeia”
Também ouvimos silêncios. Por quê? Será que não importa dizer? Será que não há o que dizer? Será que não há sonho? O que se registra ali é um sujeito que escolhe calar, recusa o convite. Dizer-se não é mesmo para ser feito a qualquer um. O trabalho com estes adolescentes exige que a instituição busque todos os recursos para estabelecer laços nos quais caiba acolher as histórias tantas, acolher para trabalhar, re-pensar, duvidar, inventar. Inventar outras saídas, inventar uma vida que fique menos próxima aos riscos da atuação na criminalidade.
Também ouvimos a crença de que o crime ainda será, ainda, uma possibilidade de viver, sobreviver. Como imaginar que um tempo ali naquele lugar possa gerar outros projetos que não retornar à criminalidade, se ali só se repetir a ordem de calar-se, apagar-se, submeter-se, negar-se?
O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) estabelece que a medida socioeducativa possui caráter educacional, prioritariamente. Porque
“Não é possível refazer este País, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos...” (FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.)
O Cedeca-MG acredita que estes adolescentes devem ser acolhidos e que o acesso à cultura enquanto direito fundamental, permite o fortalecimento de identidades e os particulares caminhos possíveis a cada um, sustentar que a ausência de “sonhos” não deve ser naturalizada. As Medidas Socioeducativas devem oferecer espaço para reflexão e construção de alternativas a trajetória de envolvimento com a criminalidade, pois “Quando o referente é o humano, todas as condições, a priori, são dignas de apreciação.” (CEDECA-MG. Carta de Princípios, 2012)